quinta-feira, 5 de fevereiro de 2015

Corrida demais é tão prejudicial quanto exercício nenhum, diz estudo dinamarques

Foto: Thinkstock

Para cientistas, exercícios extremos não mudam chances de morrer em comparação com sedentarismo
Praticar corrida em excesso pode ser tão ruim para a saúde quanto não praticar exercício, segundo cientistas dinamarqueses.


Pesquisadores do Hospital Frederiksberg, em Copenhague, estudaram voluntários - todos saudáveis - ao longo de 12 anos: mais de mil praticavam corrida, ao passo que quase 4 mil não praticavam exercícios.

As menores taxas de mortalidade couberam aos praticantes de corrida a ritmo leve e moderado; já os que praticavam corridas intensas não registraram estatísticas muito diferentes das do grupo sedentário.

Quem correu a um ritmo constante durante menos de duas horas e meia por semana teve menos chances de morrer no período.

Já os que correram mais do que quatro horas por semana ou não fizeram exercício nenhum registraram o maior número de mortes.

A corrida ideal

Os cientistas analisaram questionários preenchidos pelos voluntários que participaram da pesquisa.

A partir das respostas, eles concluíram que o ritmo ideal de corrida é cerca de oito quilômetros por hora - moderado. Além disso, eles concluíram que é melhor não correr mais do que três vezes por semana, por um total de até 2,5 horas.

As pessoas que praticavam corridas mais intensas - particularmente aqueles que corriam mais de três vezes por semana ou a um ritmo mais forte do que 11 quilômetros por hora - tinham as mesmas chances de morrer que aquelas que não praticavam exercício.

"Você não precisa fazer tanto exercício para sentir um bom impacto na sua saúde. Talvez, na verdade, você não devesse praticar tanto (exercício). Não há no mundo recomendações de um limite máximo para o exercício seguro, mas deveria haver", disse o pesquisador Jacob Louis Marott.


Caminhada vigorosa

Os pesquisadores ainda não sabem o que está por trás desta tendência, mas acreditam que mudanças no coração durante a prática de exercícios extremos podem oferecer uma explicação.Em suas conclusões, os pesquisadores sugerem que "exercícios pesados, de resistência, podem induzir a um remodelamento patológico estrutural do coração e artérias no longo prazo".

"A pesquisa mostra que você não precisa correr maratonas para manter sua saúde", disse Maureen Talbot, enfermeira especializada em problemas cardíacos da organização British Heart Foundation.

"A orientação nacional (britânica) recomenda 150 minutos de atividades moderadas por semana. Pode parecer muito, mas até uma caminhada vigorosa é um bom exercício", acrescentou.


Fonte http://www.bbc.co.uk/portuguese/noticias/2015/02/150204_corrida_excesso_saude_fn

quarta-feira, 4 de fevereiro de 2015

Estado Islâmico vende, crucifica e enterra crianças vivas no Iraque, diz ONU



Várias pessoas da minoria yazidi, fugidas da violência na cidade iraquiana de Sinjar, fazem fila para receber alimentos num acampamento nos arredores da província de Dohuk, em setembro. 13/09/2014 REUTERS/Ari Jalal






Por Stephanie Nebehay
GENEBRA (Reuters)
Militantes do Estado Islâmico estão vendendo crianças iraquianas sequestradas em mercados como escravos sexuais e matando outras, inclusive crucificando e enterrando vivas, denunciou uma agência da Organização das Nações Unidas (ONU) nesta quarta-feira.
Meninos iraquianos menores de 18 anos estão sendo cada vez mais usados pelo grupo radical como homens-bomba, fabricantes de bomba, informantes ou escudos humanos para proteger instalações contra ataques aéreos conduzidos pelos Estados Unidos, afirmou o Comitê das Nações Unidas para os Direitos da Criança.

"Realmente estamos profundamente preocupados com a tortura e o assassinato destas crianças, especialmente daquelas que pertencem a minorias, mas não só das minorias", disse Renate Winter, especialista do comitê, em boletim à imprensa. "A abrangência do problema é enorme."

Crianças da seita yazidi ou de comunidades cristãs, mas também xiitas e sunitas, têm sido vítimas, disse ela.

"Temos tido relatos de crianças, especialmente crianças com problemas mentais, que foram usadas como homens-bomba, muito provavelmente sem sequer entender a situação", declarou Winter à Reuters. "Foi publicado um vídeo (na Internet) que mostrava crianças de muito pouca idade, aproximadamente 8 anos ou mais novas, já sendo treinadas para serem soldados."

O Estado Islâmico é uma dissidência da Al Qaeda que declarou um califado islâmico em partes da Síria e do Iraque em meados do ano passado e já matou e expulsou de casa milhares de pessoas. Na terça-feira, o grupo divulgou um vídeo que mostra um piloto jordaniano capturado sendo queimado vivo.

O organismo da ONU denunciou "a matança sistemática de crianças pertencentes a minorias religiosas e étnicas cometida pelo assim chamado Estado Islâmico, incluindo vários casos de execuções coletivas de meninos, assim como relatos de crianças decapitadas, crucificadas e enterradas vivas".

Um grande número de crianças foi morto ou ficou seriamente ferido durante ataques aéreos ou bombardeios das forças de seguranças iraquianas, e outras morreram de "desidratação, inanição e calor", afirma a entidade.

O Estado Islâmico cometeu "violência sexual sistemática", inclusive "o sequestro e a escravização sexual de crianças".

"Crianças de minorias têm sido capturadas em vários lugares... vendidas no mercado com etiquetas, etiquetas de preço nelas, foram vendidas como escravas", disse Winter.

Os 18 especialistas independentes que elaboraram o relatório pediram às autoridades iraquianas que adotem todas as medidas necessárias para "resgatar as crianças" sob controle do grupo militante e processar os perpetradores dos crimes.

(Reportagem adicional de Marina Depetris)

quinta-feira, 29 de janeiro de 2015

'A vida no Brasil não é normal, é só trabalho', conta boliviana que foi escravizada em SP

Mariana Schreiber

Enviada especial da BBC Brasil a El Alto (Bolívia)
Malena trouxe do Brasil uma imagem da Nossa Senhora Aparecida | Foto: Mariana Schreiber
Malena chegou a dormir, com a filha pequena, em cozinha de oficina em São Paulo

"Eu sinto saudade do Brasil. Mas não era uma vida normal. Era só trabalho", resume a boliviana Malena Aruquipo Rios, de 37 anos, 15 deles vividos em São Paulo.


Após duas passagens pela capital paulista (uma de quatorze anos e outra de um), ela está de volta a El Alto, uma cidade satélite contígua à capital La Paz, desde 2013.

Com tradição no setor têxtil, El Alto é o principal pólo de emigração para São Paulo, a metrópole onde milhares de bolivianos são explorados em oficinas de costura.

Considerada a capital mundial da etnia aymara – do presidente Evo Morales –, a cidade se desenvolveu nos últimos anos, mas continua exportando mão de obra barata para o Brasil.

A presidente Dilma Rousseff desceu de seu avião no aeroporto de El Alto na última quinta-feira quando esteve por apenas quatro horas na Bolívia para prestigiar a posse do terceiro mandato de Evo Morales e reativar a relação entre os dois países.

Malena veio ao Brasil aos 20 anos de idade, em 1998, quando esse fluxo migratório começava a se intensificar. Falando com voz tímida e jeito desconfiado, ela conta que deixou a casa da sua família com objetivo de trabalhar um ano, juntar dinheiro e voltar para estudar ou abrir um negócio.

Mas a motivação econômica não foi a única razão que a levou a cruzar de ônibus os 2,9 mil km que separam as duas cidades – ela também tinha curiosidade.

"A princípio não queria, (porque) eu estava namorando e estudando. Mas depois pensei: por que não? Quem não quer conhecer outro país? Sempre gostei do idioma quando ouvia na TV", recorda.
Teleférico que liga El Alto a La Paz | Foto: Mariana Schreiber
Crescimento tem mudado a paisagem de região no entorno da capital boliviana


Foi seu pai que sugeriu que ela trabalhasse como babá para uma família conhecida de bolivianos. Mas a promessa de ganhar US$ 100 por mês (R$ 110 na época) não se concretizou e boa parte da sua vida nos anos seguintes foi de escravidão, segundo as leis brasileiras.

Ameaças

Em seu primeiro trabalho, numa oficina de costura em Tucuruvi (norte de São Paulo), sua jornada começava às 7h da manhã e terminava às 3h da madrugada, com apenas dois breves intervalos para refeições. Além de cuidar das crianças, ela cozinhava e arrumava a oficina.

Depois que os costureiros terminavam seus trabalhos, à 1h, Malena organizava o local: varria o chão, dobrava os tecidos e separava as peças de roupa que eram levadas por coreanos, os intermediários entre a oficina e as empresas de varejo.

Ao longo de seis meses nessa condição, tudo o que recebeu foram R$ 50. Sua patroa ameaçava denunciá-la à imigração brasileira se ela abandonasse o trabalho.

Certo dia, fugiu. "Uma noite, quando acabei de trabalhar, fui andando até Santana (também no norte de São Paulo)", lembra. Sem saber falar a língua, ficou perdida pelo bairro: "Eu chorava sem parar."

De manhã, foi socorrida por algumas pessoas na rua que sugeriram que ela deveria voltar para casa, mas não quis retornar de mãos abanando. "Eu tinha ido para juntar dinheiro e ainda não tinha conseguido nada. Então fiquei mais", lembra.
Malena havia conseguido o contato de outra oficina de bolivianos em Guarulhos. Lá, o trabalho era semelhante e ela recebia R$ 130. "(A patroa) pagava certinho, mas muitas vezes não tinha comida e a gente passava fome. E não podia sair para procurar outro emprego."

Nessa oficina, com dez trabalhadores bolivianos, ela conheceu seu marido. Depois de um ano, o casal decidiu procurar outro local para trabalhar. Quando saíram, os patrões se recusaram a pagar seu último salário.

Ainda foram costureiros em Santana, no Bom Retiro, em Itaquera e na Penha. Os patrões costumavam ser brasileiros ou bolivianos. Em um desses lugares, sem alojamento, chegou a dormir com sua filha Taina, de dois anos, no chão da cozinha. Também era comum sofrer assédio dos donos das oficinas, conta.

Escravidão

O Código Penal Brasileiro considera que uma atividade é "análoga à escravidão" se houver qualquer um desses quatro elementos presentes: trabalho forçado, jornada exaustiva, condições degradantes de trabalho ou restrição à locomoção por dívida.

A BBC Brasil perguntou a Malena se ela entendia que estava sendo explorada como escrava. Na sua visão, isso só acontecia quando não recebia. "No início sim, não me pagavam, a comida era muito ruim. Depois melhorou."

No início da vida em São Paulo, Malena mal saía na rua: além de coragem, também lhe faltavam tempo e dinheiro. "Eu demorei três anos para falar português e andar pela cidade sozinha", diz.

Em 2003, uma oficina pagou ao casal com máquinas de costura e eles decidiram trabalhar por conta própria com mais dois casais. Alugaram um apartamento de três quartos na Armênia onde todos moravam e trabalhavam juntos.

Costurando por conta própria, Malena conseguia ganhar até R$ 600, mas ela diz que a rotina era até mais pesada.

"Tínhamos que trabalhar mais para conseguir pagar as contas – aluguel, luz, água. Muitas vezes nem dormíamos para entregar o serviço."

Ainda assim, preferia esse esquema por causa da filha, que nasceu em 2000. "Na oficina em que a gente trabalhava antes, eu tinha que deixar ela trancada num quarto. Os donos reclamavam."

Retorno

Em 2011, a boliviana decidiu voltar com Taina para El Alto, após uma separação complicada do marido. Pesou em sua decisão o futuro da filha – na Bolívia ela poderia ter uma educação e um ambiente familiar melhor, perto dos avós e dos tios.

"As amiguinhas que ela tinha no Brasil eram muito precoces. Com nove anos, ela queria ir sozinha passear no shopping. Isso me preocupava."

Quatro anos depois do retorno, Taina parece adaptada, mas o início foi difícil. "Ela achava tudo feio aqui, a cidade, as pessoas", diz a mãe.

Malena ainda voltou sozinha para o Brasil por um ano em 2013. Novamente trabalhou em oficina de costura, ganhando cerca de R$ 500 por mês. Dessa vez, conseguiu cumprir seu objetivo de estudar – nos fins de semana, fez um curso profissionalizante gratuito de manicure.


Tem que ser feita uma discussão maior sobre a terceirização do trabalho pelas empresas de moda. Há uma cegueira deliberada das empresas, que fingem que não veem o trabalho escravo nos fornecedores.Christiane Nogueira, procuradora do MPT - SP

Apesar da vida difícil no Brasil, ela diz sentir saudade de São Paulo. "Lá é muito bonito", diz, contrariando a fama de feia da capital paulista. "Foram 15 anos…", repete, justificando o sentimento.

Acordo

Um acordo de 2012 do Mercosul, do qual a Bolívia já é membro associado, dá direito a qualquer boliviano solicitar visto permanente para morar e trabalhar no Brasil. O governo brasileiro entende que a própria legalização dos bolivianos é uma forma de deixá-los menos vulneráveis à exploração, explica o diretor do Departamento de Estrangeiros do Ministério da Justiça, João Guilherme Granja.

Outra prioridade, diz Granja, é melhorar o atendimento ao estrangeiro que chega ao país. Ele cita a inauguração do Centro de Integração e Cidadania do Imigrante, em São Paulo, que conta com atendimento da Defensoria Pública da União e terá em breve um posto da Polícia Federal para regularização de papéis.

O local foi construído pelo governo estadual com recursos de multas aplicadas em empresas que exploravam trabalho escravo e também com R$ 6 milhões doados pela Zara, que em 2011 foi responsabilizada por escravizar 16 bolivianos em duas oficinas de fornecedores.

"O imigrante não é um problema. Queremos que ele seja bem tratado", afirma Granja.

No último sábado, o ex-presidente Luís Inácio Lula da Silva discursou para milhares de bolivianos em uma praça no centro de São Paulo. Um vídeo postado em sua página no Facebook mostra o momento em que, sob aplausos, ele parabeniza Morales e afirma que "os imigrantes têm que ser tratados (no Brasil) como irmãos, como brasileiros, como iguais".

Taina, Inês e Malena | Foto: Mariana Schreiber
Inês, ao centro, não quer que a filha Malena (dir.) e a neta Taina (esq.) voltem a morar no Brasil


A Embaixada brasileira em La Paz informou à BBC que tem atuado junto a rádios locais de El Alto para alertar a população sobre as redes de aliciamento de trabalho escravo e explicar sobre a possibilidade de emigrar legalmente para o país.

Segundo a Embaixada, estima-se que mais de um milhão de bolivianos vivam no Brasil, mas é muito difícil saber precisamente, pois muitos não são registrados ou vão e voltam com regularidade. Os números do Ministério da Justiça indicam que há 121 mil regularmente no país.

O valor crescente de recursos enviados do Brasil para a Bolívia nos últimos anos são outro indicativo da expansão da imigração. Segundo dados do Banco Central boliviano, em 2007, os reais representavam cerca de 0,6% das remessas enviadas por bolivianos no exterior ao país – que somam cerca de US$ 1 bilhão por ano. Já em 2014, eram 5% do total.

'Não quero isso para minha filha'

Malena conseguiu regularizar sua vida no Brasil ainda antes de completar um ano no país, mas nunca obteve um trabalho de carteira assinada. Apesar disso, ela diz que não se sentiu excluída do restante da sociedade. "Muitos chamavam os bolivianos de bêbados, mas eu tinha amigas brasileiras também", conta.

Sua intenção é fazer uma visita com a filha a São Paulo no fim do ano, mas voltar definitivamente não está nos planos. A maior preocupação de Malena é a educação de Taina. "Não quero que ela passe pelo sofrimento que eu passei."

Segundo a procuradora do Ministério Público do Trabalho (MPT) de São Paulo Christiane Nogueira, há milhares de oficinas de costura em São Paulo. Devido à fiscalização na cidade, o órgão tem notado o surgimento de oficinas em municípios vizinhos e também em Minas Gerais e Santa Catarina.

"É impossível fecharmos todas. Tem que ser feita uma discussão maior sobre a terceirização do trabalho pelas empresas de moda. Há uma cegueira deliberada das empresas, que fingem que não veem o trabalho escravo nos fornecedores", afirma a procuradora.

Um balanço divulgado pelo Ministério do Trabalho na quarta-feira mostra que 1,4 mil trabalhadores foram resgatados de condições análogas à escravidão em 2014, sendo 82 deles de oficinas de costura no estado de São Paulo.

No caso mais recente, de novembro, a varejista Renner foi responsabilizada pela exploração de 37 costureiros em uma oficina terceirizada em São Bernardo (SP).


Fonte http://www.bbc.co.uk/portuguese/noticias/2015/01/150127_boliviana_escravizada_ms

quarta-feira, 28 de janeiro de 2015

No Sudão do Sul, ex-crianças-soldado trocam armas por livros

Ed Thomas

Da BBC, em Pibor (Sudão do Sul)

Cerimônia para soldados infantis

A ONU diz ter conseguido a desmobilização de pelo menos 3 mil soldados infantis envolvidos no conflito
As cerca de 300 crianças estão uniformizadas e carregam rifles enquanto escutam o discurso de seu comandante, em Pibor, no Sudão do Sul.

Há um certa agitação no ar, porque em breve as crianças passarão aos cuidados das Nações Unidas.

Após anos de participação como soldados em uma guerra civil, as crianças enfim poderão ir para casa.

"Não vejo minha mãe e minha família desde o verão passado", explica Silva, um dos mais jovens soldados na cerimônia.

Leia mais: País mais novo do mundo, Sudão do Sul tem 'matança étnica'; ONU pede reforços

Ele tem apenas 11 anos. E assim como seus companheiros de armas, tem sua identidade preservada. Silva é um nome fictício.

"Vi muitas pessoas morrerem em minhas missões", conta Silva.

"Eu tinha um fuzil AK-47. Era pesado. Estava lutando para proteger minha família e minha aldeia".
Grito de batalha
Soldados infantis no Sudão do Sul
Crianças de 11 anos estavam entre os milhares de soldados infantis recrutados pelos dois lados na guerra civil do Sudão do Sul


A cerimônia é conduzida pelo general Khalid Butrus Bura, um dos comandantes de Silva na Tropa Cobra do Exército Democrático do Sudão do Sul.

Trata-se de uma poderosa milícia atuante na região de Pibor e que há mais de três anos vive em guerra com governo do Sudão do Sul - um dos muitos conflitos desde que o país foi criado, em 2011, após conquistar sua independência do Sudão.

Porém, a situação em Pibor se tranquilizou com a assinatura de um acordo de paz entre o governo e David Yau Yau, líder rebelde que pegou em armas contra as autoridades sob a alegação de estar defendendo os interesses da minoria étnica murle. A maioria da população sudanesa do sul, estimada entre 8 e 10 milhões de pessoas, é das etnias dinka, nuer, bari e azande.

Leia mais: Sudão do Sul volta a exportar petróleo

Yau Yau é uma presença forte na região de Pibor e seu nome é gritado pelas crianças-soldado antes de sua transferência para um complexo especial da ONU no vilarejo de Gumuruk.
O general Yau Yau
Depois de comandar crianças na frente de batalha o general Yau Yau agora promete que os ex-combatentes irão à escola


Silva agora pensa num futuro sem guerras.

"Quero estudar. Não quero mas lutar. Tinha medo"

Ao lado de Silva está Abraham, de 12 anos.

Ele é uma criança que carrega o ar de um veterano de guerra.

"Tinha medo de morrer e senti que precisava lutar", diz Abraham.

Leia mais: Sudão do Sul deve desmobilizar crianças-soldados, diz enviada da ONU
Aldeia queimada
As estimativas são de que a guerra civil no Sudão do Sul já tena matado mais de 50 mil pessoas


"Duas irmãs foram mortas. Estive em missões e vi muitas pessoas morrendo também".

O conflito em Pibor é paralelo à rebelião nacional que eclodiu no Sudão do Sul em 2013 e que já matou mais de 50 mil pessoas.

A ONU acredita que milhares de crianças têm sido forçadas a lutar em ambos os lados do conflito.
Esperança

A Unicef, agências das ONU para a criança e o adolescente diz que as crianças retiradas do conflito receberão apoio educacional e psicológico antes das tentativas de reuni-los às famílias.

No total, 3 mil crianças foram desmobilizadas, segundo um porta-voz da entidade, Jonathan Veitch.
Armas devolvidas
As crianças envolvidas nos combates invariavelmente carregam memórias de mortes e destruição


"É a primeira operação deste tipo que realizamos. Considerando que há uma grande quantidade de soldados infantis na guerra civil do Sudão do Sul, o fato de podermos mostrar que conseguimos tirar meninos do uniforme militar e os colocar na escola é um sinal de esperança para o futuro deste país".

Leia mais: Brasil anuncia relações diplomáticas com o Sudão do Sul

Mas o futuro desses meninos, muitos deles afirmando ter agido para defender familias e aldeias de ataques das forças do governo, depende também dos comandantes que os enviaram à frente de batalha.

Perguntado sobre a questão, o general Bura, que comandou as crianças mas também negociou sua liberação, promete que não vai usar os soldados infantis novamente.

"Queremos que as crianças tenham educação. Não as queremos mais em combate. Elas lutaram apenas porque era um momento especial em nossa história. Elas jamais lutarão novamente", afirma Bura.
Guerrilheiro sudanês
As forças do general Yau Yau assinaram um acordo de paz com o governo do Sudão do Sul em janeiro do ano passado


Antes de sairmos de Pibor, vimos um ex-soldado sentado do lado de fora de uma tenda da ONU.

Ele tinha tirado seu uniforme. Peter disse ter 15 anos, apesar de parecer ter bem menos, e era um dos poucos meninos que falava inglês.

"Não tenho mais medo", disse ele.

"Quero ir para escola, virar pastor e ajudar minha aldeia e minha família".


Fonte http://www.bbc.co.uk/portuguese/noticias/2015/01/150128_sudao_fd

terça-feira, 20 de janeiro de 2015

Execução 'abala vida de fantasia' de traficantes brasileiros na Indonésia

BBC

Escritora australiana que expôs 'bolha' de hedonismo e drogas em paraíso de turistas vê na morte de Archer um aviso sombrio de mudança de tempos.
Fernando DuarteDa BBC




A escritora australiana conheceu Rodrigo Gularte (à esquerda) e Marco Archer no 'corredor da morte' na Indonésia (Foto: BBC)
A escritora australiana conheceu Rodrigo Gularte (à esquerda) e Marco Archer no 'corredor da morte' na Indonésia (Foto: BBC)


Nevando em Bali, livro que expõe em detalhes o submundo das drogas na mais famosa ilha do arquipélago que forma a Indonésia, chama a atenção não apenas pela descrição da mistura de crime e hedonismo no paraíso turístico que recebe mais de 2 milhões de visitantes por ano.

Muitos dos traficantes entrevistados pela escritora e jornalista australiana Kathryn Bonella para o livro eram brasileiros. Entre eles, Marco Archer, que no último sábado se tornou o primeiro brasileiro executado no exterior.

Para Bonella, no entanto, o mais significativo foi o fato de Archer ter sido também o primeiro ocidental a receber a pena de morte na Indonésia.
Kathryn Bonella: "Os brasileiros que conheci em Bali tinham um perfil bem diferente de 'mulas' e traficavam para manter um estilo de vida"  (Foto: BBC)Kathryn Bonella: "Os brasileiros que conheci em
Bali tinham um perfil bem diferente de 'mulas' e
traficavam para manter estilo de vida" (Foto: BBC)


'Bolha'
Para a australiana, a morte estourou o que ela chama de "bolha da fantasia" para os brasileiros envolvidos com o tráfico no país.

"A morte de Marco foi decididamente o que se pode chamar do fim de uma fase. Sempre se soube que o tráfico na Indonésia é punido com a pena de morte, mas as autoridades indonésias jamais tinham ido até o fim na punição a ocidentais", afirma Bonella, em entrevista à BBC Brasil.

"Ao mesmo tempo que isso não vai acabar com o tráfico em Bali, eu imagino que muitos brasileiros vão pensar duas vezes diante da próxima oportunidade de contrabandear drogas para a Indonésia. Mas duvido que isso vá durar para sempre. Há uma grande demanda por drogas em Bali, é um lugar para onde turistas do mundo inteiro vão para se divertir sem os mesmos limites vistos na maioria dos lugares do mundo."

"Rafael", um dos traficantes brasileiros mais ativos em Bali, tinha uma mansão que contava com um trampolim para pular do quarto à piscina

Para Bonella, a frequência com que encontrou brasileiros envolvidos com o tráfico na Indonésia - de transportadores de droga a ricos intermediários entre os grandes barões - é explicada pelo perfil da maioria dos viajantes do país para o arquipélago.

"Os brasileiros que encontrei tinham basicamente o mesmo perfil. Eram surfistas que viram no tráfico, em especial de cocaína, uma chance de se manter em Bali e viver uma vida de fantasia, pegando ondas, indo a festas e encontrando belas mulheres. A proximidade do Brasil com os mercados produtores de cocaína na América do Sul ajuda no acesso à droga. E, ao contrário dos habitantes de muitos países, os brasileiros viajam normalmente pelo mundo", argumenta Bonella.

Perfil diferenciado
 "Rafael", um dos traficantes brasileiros mais ativos em Bali, tinha uma mansão que contava com um trampolim para pular do quarto à piscina  (Foto: BBC)"Rafael", um dos traficantes brasileiros mais ativos em Bali, tinha uma mansão que contava com um trampolim para pular do quarto à piscina (Foto: BBC)


Outro fator que diferencia os traficantes brasileiros que a australiana encontrou na Indonésia é o perfil social.

"Eles eram todos de classe média, com escolaridade e conhecimento razoável de inglês. Entraram no tráfico pela curtição, não por uma necessidade econômica. Queriam viver tendo do bom e do melhor. Bem diferentes das 'mulas' (transportadores de droga), que recebem pouco dinheiro para muito risco. Um dos brasileiros que conheci em Bali podia ganhar uma fortuna com uma viagem bem-sucedida", conta a australiana.

Um dos grandes exemplos foi um carioca conhecido como "Rafael", um surfista que durante anos foi uma das principais engrenagens no tráfico de cocaína em Bali e que não fazia muita questão de esconder seus lucros: dava festas homéricas em sua mansão à beira-mar, onde uma das atrações era um trampolim do qual ele saltava de seu quarto diretamente para a piscina.

A pena capital para o tráfico não impediu a Indonésia de concentrar a circulação e o uso de drogas no Sudeste Asiático

Bonella esteve na Indonésia no fim de semana e acompanhou através da mídia e de relatos de contatos a execução de Marco Archer. Embora faça questão de criticar a opção do brasileiro pelo tráfico, a australiana disse ter ficado chocada com o desfecho de um dos personagens mais citados em Nevando em Bali - numa das passagens, Bonella conta que Archer dominava o fornecimento de maconha em Bali e tinha até registrado a marca de um tipo de erva que vendia, a Lemon Juice.

"Visitei Marco na prisão durante a pesquisa para o livro. Sabia o que ele estava fazendo e de maneira nenhuma endosso o tráfico. Mas ele era carismático e até cozinhou na prisão para mim, e parecia ter muitos amigos na Indonésia, pois recebi uma série de mensagens lamentando sua morte. Sou pessoalmente contra a pena capital, em especial a tortura psicológica que foi Marco ter vivido mais de dez anos com a possibilidade de execução pairando sobre sua cabeça."

Surfistas brasileiros, segundo Bonella, usaram o tráfico como forma de manter um estilo de vida confortável na Indonésia

Numa das visitas, Bonella foi apresentada a Rodrigo Gularte, o outro brasileiro condenado à morte e cuja execução poderá ocorrer ainda este ano. Foi no livro da australiana que veio à tona uma suposta tentativa de suicídio do brasileiro após o anúncio da sentença, em 2005.

"Não pude comprovar, mas me pareceu claro que Rodrigo tinha sido afetado de maneira bem diferente de Marco", disse.

'Mais perigoso'
 A pena capital para o tráfico não impediu a Indonésia de concentrar a circulação e o uso de drogas no Sudeste Asiático  (Foto: BBC)A pena capital para o tráfico não impediu a Indonésia de concentrar a circulação e o uso de drogas no Sudeste Asiático (Foto: BBC)


A australiana disse não acreditar que a pressão internacional sofrida pela Indonésia nos últimos dias, inclusive com a retirada dos embaixadores de Brasil e Holanda (que também teve um cidadão executado no fim de semana), poderá mudar o destino do brasileiro e dois australianos também no corredor da morte.

"Não me parece que os protestos vão alterar a política de Joko Widodo (o presidente da Indonésia). Há um forte sentimento antidrogas entre a população local", avalia.

"Os traficantes devem estar assustados, mas o tráfico não vai parar. Há muita demanda, até porque a Indonésia é usada como centro de distribuição das drogas para outros países asiáticos e mesmo a Austrália. Só que agora os envolvidos sabem que a situação ficou ainda mais perigosa", opina Bonella.

Fonte http://g1.globo.com/mundo/noticia/2015/01/execucao-abala-vida-de-fantasia-de-traficantes-brasileiros-na-indonesia.html

QUEM SE HABILITA???? - SE VOCÊ ESTA ENTRE ESTES ABONADOS, JÁ PODE CHUTAR O BALDE...